Introdução à Psicologia Analítica
17.3.16
Carl Gustav Jung (1875-1961), considerado como um cartógrafo a desvendar o mapa da alma, teve grande contribuição para a história da psicologia. Médico especializado em psiquiatria, Jung foi assistente de Bleuler e, posteriormente, tornou-se um dos maiores discípulos de Sigmund Freud. Discordando de algumas concepções freudianas sobre o inconsciente e compreendendo o ser humano também em sua dimensão histórica, encerrou seus trabalhos com Freud e deu início a outra forma de se pensar e fazer psicologia (DA SILVEIRA, 1981).
"O início de minha carreira se deu em linhas inteiramente freudianas. Fui até considerado como seu melhor discípulo. Estive em ótimos termos com ele até a hora em que concluí que algumas coisas eram simbólicas. Aí Freud não concordou e identificou seu método com a teoria e a teoria com o método. Isto é impossível. Não se pode jamais identificar método com ciência. [...] Não obstante tenho plena consciência dos méritos de Freud e não tenho intenção alguma de diminuí-los. Sei, inclusive, que o que ele diz se adapta a uma grande parte das pessoas, e é possível afirmar que tais pessoas têm exatamente o tipo de psicologia que ele descreve." (JUNG, 2001, p. 12).
"O início de minha carreira se deu em linhas inteiramente freudianas. Fui até considerado como seu melhor discípulo. Estive em ótimos termos com ele até a hora em que concluí que algumas coisas eram simbólicas. Aí Freud não concordou e identificou seu método com a teoria e a teoria com o método. Isto é impossível. Não se pode jamais identificar método com ciência. [...] Não obstante tenho plena consciência dos méritos de Freud e não tenho intenção alguma de diminuí-los. Sei, inclusive, que o que ele diz se adapta a uma grande parte das pessoas, e é possível afirmar que tais pessoas têm exatamente o tipo de psicologia que ele descreve." (JUNG, 2001, p. 12).
A Psicologia Analítica corresponde a uma teoria, pesquisa e prática clínica orientadas pela perspectiva teórico-metodológica de Jung. Este defendia uma psicologia funcional, que pudesse ser posta em prática, e ensinada em seus aspectos biológicos, etnológicos, médicos, filosóficos, culturais-históricos e religiosos. Para isso, cunhou alguns termos que se correlacionavam com diversas áreas do conhecimento - mitologia e estudo de religião comparada, astronomia, física quântica, alquimia, psicanálise e medicina (SHAMDASANI, 2011).
"Jung escreveu: “Psicologia complexa significa a psicologia das ‘complexidades’, ou seja, dos sistemas psíquicos complexos em contraposição a fatores relativamente elementares”. Meier sugeriu que, comparando-se com a psicologia “analítica”, a psicologia “dos complexos” tinha o valor de ser menos restrita às associações patológicas do consultório. Entretanto, com raras exceções, essa expressão não foi adotada pelos seguidores de Jung. Uma das razões para essa atitude foi ela nunca ter sido adotada na comunidade de língua inglesa, que se tornou o setor mais influente para o desenvolvimento da psicologia junguiana, depois da Segunda Guerra Mundial. Essa surpreendente desconsideração pelo nome escolhido por Jung para sua disciplina é, em si, um indício da separação entre Jung e a psicologia junguinana. Além disso, também indica uma mudança crucial de ênfase para uma direção oposta, da psicologia geral para a análise prática. Atualmente, a psicologia analítica é em grande medida uma disciplina psicoterapêutica profissional, envolvida numa relação problemática com o amplo público leigo leitor de Jung. A tentativa que ele fez de estabelecer uma psicologia geral ficou em segundo plano, embora continue viva nos bastidores, desempenhando seu legítimo papel." (SHAMDASANI, 2011, p. 27).
Ainda que o que se compreende hoje como Psicologia Analítica não seja fielmente aquilo que Jung pensou para a ciência psicológica, ela se utiliza dos métodos e componentes teóricos por ele discutidos e, portanto, até mesmo para fins didáticos, ela não é separada da Psicologia Junguiana.
O paradigma junguiano é baseado em uma concepção ontológica de mundo e de ser humano como uma totalidade, em seus aspectos consciente e inconsciente. Sua proposta epistemológica básica é viabilizar o conhecimento dos conteúdos inconscientes, de modo que o ser encontre mecanismos que o auxiliem em seu encontro consigo mesmo (SHAMDASANI, 2011).
O paradigma junguiano é baseado em uma concepção ontológica de mundo e de ser humano como uma totalidade, em seus aspectos consciente e inconsciente. Sua proposta epistemológica básica é viabilizar o conhecimento dos conteúdos inconscientes, de modo que o ser encontre mecanismos que o auxiliem em seu encontro consigo mesmo (SHAMDASANI, 2011).
"O método terapêutico
da psicologia complexa consiste, por um lado, numa tomada de
consciência, a mais completa possível, dos conteúdos inconscientes
constelados e, ao mesmo tempo, numa síntese destes com a consciência
através do ato cognitivo. Dado que o homem civilizado possui um
grau de dissociabilidade muito elevado e dele se utiliza continuamente a
fim de evitar qualquer possibilidade de risco, não é garantido que o conhecimento
seja acompanhado da ação correspondente. Pelo contrário,
devemos contar com a extrema ineficácia do conhecimento e insistir por
isso em sua aplicação significativa." (JUNG, 2011, p. 49).
DA SILVEIRA, N. Jung, Vida e Obra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
JUNG, C. G. Fundamentos de Psicologia Analítica. Petrópolis: Editora Vozes, 2001.
JUNG, C. G. Memórias, Sonhos, Reflexões. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2006.
JUNG, C. G. Memórias, Sonhos, Reflexões. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2006.
JUNG, C. G. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Petrópolis: Editora Vozes, 2011.
SHAMDASANI, S. Jung e a Construção da Psicologia Moderna. O Sonho de Uma Ciência. São Paulo: Editora Ideias & Letras, 2011.
2 comentários
Excelente explicação! Estou fazendo formação em psicologia analítica e foi bastante esclarecedor.
ResponderExcluirMuito bom. ótima explicação
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